Esse texto foi retirado do site da Associação Brasileira de Integração Sensorial (fONTE: https://www.integracaosensorialbrasil.com.br/is-e-outros-diagnosticos)
Com o enorme número de casos de autismo diagnosticados a cada dia que se passa (1 a cada 68 crianças), cresce a preocupação em entender melhor esse quadro e encontrar novas formas de auxiliar as pessoas que estão no espectro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desde o início de suas pesquisas sobre integração sensorial foi evidente para a Dra. Jean Ayres que a integração sensorial poderia ser uma boa ferramenta no tratamento das crianças com autismo, já que a grande maioria deles apresenta distúrbios no processamento sensorial. Existem vários estudos que mencionam a presença de dificuldades sensoriais nas pessoas com TEA; as porcentagens encontradas variam de 30% em um estudo, até 100% em outros. Os terapeutas que trabalham com crianças do espectro autista sabem que a presença de dificuldades sensoriais é um fator importante no comportamento de muitas crianças com TEA. Esse reconhecimento aumentou o interesse em usar essa abordagem como parte do tratamento de crianças diagnosticadas com autismo. (Schaaf, R and Mailloux, Z, 2015). O foco da terapia com abordagem de integração sensorial no TEA é melhorar o processamento sensorial com objetivo de: · Aumentar a participação nas atividades diárias e, consequentemente, a participação social; · Ampliar o repertório de brincadeiras e diminuição de comportamentos repetitivos e /ou estereotipados. · Diminuir o desconforto da pessoa em situações em que o processamento sensorial atípico cause uma desregulação. Greenspan: "Por 60 anos os tratamentos para os transtornos do espectro autista focalizaram nos sintomas diagnósticos ao invés dos problemas subjacentes. Como resultado, os objetivos para cada criança frequentemente limitaram-se a mudanças em comportamento, tornando o prognóstico a longo prazo muito pessimista". Quando se usa uma abordagem de integração sensorial no tratamento de uma pessoa com autismo, tenta-se entender em profundidade como é o processamento sensorial dessa pessoa e de que forma ele afeta os comportamentos apresentados. Por muito tempo a terapia de integração sensorial no autismo focou na modulação sensorial, provavelmente porque são os sintomas mais evidentes e os que causam grande desregulação. Assim, sabe-se que uma pessoa que bate a cabeça no chão provavelmente está em uma sobrecarga sensorial e está tentando se regular. Ao cobrir os ouvidos em um ambiente barulhento está mostrando que sua audição, mais sensível, está sofrendo com estímulos que são maiores do que seu sistema nervoso pode tolerar. A modulação sensorial da pessoa com TEA se faz de uma forma diferente de pessoas que apresentam somente um distúrbio de integração sensorial, sem outras comorbidades. Os padrões de processamento tendem a ser mais extremos e fatores de hiper e hipo processamento coexistem. Existe uma tendência por exemplo, de uma hipersensibilidade auditiva, que coexiste com um visual muito forte. Ao mesmo tempo, pode haver um limiar muito alto para tato ou gustação. Não é incomum vermos crianças que comem cebola ou alho cru, ou que têm uma gustação tão aguçada que consegue diferenciar se foi a mãe ou a avó que temperou o feijão. Essa percepção gustativa pode fazer com que a criança se torne excessivamente seletiva em relação ao que come, procurando sempre a mesma marca, ficando muito rígida em relação a alimentação. Todos esses fatores são causas de um maior isolamento social e de dificuldades para a família. Atualmente sabemos que, além dos problemas de modulação, que foram o maior foco até recentemente, a dificuldade nas praxias também impacta o desenvolvimento da pessoa com TEA. Muitas vezes a mesmice nas brincadeiras é causada por uma dificuldade de saber o que fazer com as coisas, o que chamamos de falta de ideação. A criança aprende que uma brincadeira funciona e repete sempre a mesma, não aceitando variações. Ou não consegue planejar como jogar uma bola ou como antecipar para pegá-la e se desinteressa da brincadeira. A dispraxia é um fator muito limitante ao aumento de repertório de brincadeiras. Muitas vezes a criança com dispraxia parece ter uma integração sensorial adequada porém, o mau processamento do sistema vestibular, tátil e proprioceptivo, fazem com que a praxia seja pobre. É importante que falemos mais sobre a dispraxia no autismo, há estudos diversos demonstrando que a dificuldade na comunicação social que envolve a imitação de gestos como acenar,mandar beijo ou dar tchau, muitas vezes se relaciona a dificuldades na praxia, que envolve a ideação, planejamento e execução motora. Desta forma, é importante que pensemos na importância da Integração Sensorial no tratamento das crianças com TEA, já que evidências científicas robustas tem amparado a eficácia desta abordagem nestes casos. Falaremos sobre este tema tão encantador em outro post. Lembremos que a terapia de integração sensorial bem aplicada, por um profissional com treinamento específico nessa área pode ser combinada com outras abordagens e contribuir muito para um desenvolvimento mais amplo.
1 Comment
O texto que vou postar aqui é retirado do site da Associação Brasileira de Integração Sensorial, que vem desenvolvendo um trabalho de muita seriedade para regulamentação e divulgação dessa abordagem no Brasil, por terapeutas ocupacionais.
https://www.integracaosensorialbrasil.com.br/integracao-sensorial A Integração Sensorial (IS) é a organização das sensações para uso no dia-dia. O nosso cérebro nos dá constantemente informações sobre as condições do nosso corpo e sobre o ambiente à nossa volta. Quando essas informações estão bem organizadas, somos capazes de usá-las para nossa percepção, comportamento e aprendizado. Quando as informações estão desorganizadas, temos dificuldade de sentir e organizar nossas sensações. Dr. Jean Ayres descreve a Integração sensorial como “o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente fazendo com que seja possível o uso do corpo efetivamente no ambiente” (Ayres, 1989). Assim, como um processo neurológico e inconsciente, a coordenação das sensações (audição, visão, tato, gustação, olfato, movimento, gravidade e posição) nos permitem agir e responder às situações adequadamente. A Integração Sensorial providencia as informações necessárias para aparelhar o corpo e a mente, uma vez que une todas as nossas sensações e dá sentido à elas. Imagine-se descascando e comendo uma laranja, você a sente com suas mãos, sente o cheiro, observa com os olhos e sente o gosto com a boca. Todas essas informações juntas fornecem a experiência completa sobre comer a laranja. É através das experiências e da interação com o mundo que as crianças desenvolvem a Integração Sensorial. As habilidades e sensações são desenvolvidas através do brincar, as quais vão ajudar futuramente a desenvolver habilidades mais complexas e ter sucesso nos diversos desafios da vida. A Disfunção de Integração Sensorial é uma desordem na qual a informação sensorial não é integrada ou organizada adequadamente no cérebro e pode produzir vários graus de problemas no desenvolvimento, no processamento da informação, no comportamento e na aprendizagem, tanto motora quanto conceitual. A práxis, capacidade de idealizar, planejar e executar as ações, também pode estar comprometida. O desenvolvimento da práxis é um dos objetivos da Integração Sensorial, que favorece a capacidade prática de realizar as atividades da vida diária como: alimentação, vestuário, higiene pessoal, brincar, atividades escolares, participação social entre outras. Três sistemas sensoriais são centrais na Teoria de Integração Sensorial: tátil, vestibular e proprioceptivo. Suas interrelações começam a se formar antes do nascimento e continuam a se desenvolver a medida que a pessoa amadurece e interage com seu ambiente. Embora estes três sistemas sensoriais sejam menos familiares do que a visão e a audição, eles são importantes para nossa sobrevivência básica e desenvolvem um papel fundamental no comportamento humano tanto físico quanto mental. A avaliação e o tratamento de Integração Sensorial são realizados por terapeutas ocupacionais com formação em Integração Sensorial de Ayres®. Os objetivos gerais do terapeuta ocupacional são: prover experiências sensoriais, auxiliar a criança na inibição e / ou modulação da informação sensorial; organizar a criança no processamento de resposta mais adequadas aos estímulos sensoriais; e promover oportunidades para o desenvolvimento de respostas adaptativas cada vez mais complexas. Os procedimentos de Integração Sensorial são delineados para alcançar as fundações sensoriais e motoras que ajudam a criança a aprender novas habilidades mais facilmente, incorporando necessariamente o interesse e motivação da criança, o Terapeuta Ocupacional desenvolve a intervenção num contexto de brincadeiras, que envolve cuidadosa seleção das experiências sensoriais (toque, movimento, sensações musculares e articulares), planejada individualmente para cada criança, com desafios “na medida certa” com encorajamento, empatia, motivação e que conduzam a organização (da criança e, portanto, de seu sistema nervoso). Procure Sempre um Terapeuta Ocupacional com Formação em Integração Sensorial de Ayres®. Fontes: https://www.autism.com/symptoms_sensory_overview http://www.integracaosensorialbrasil.com.br/ https://www.siglobalnetwork.org/ayres-sensory-integration AYRES, A.J. What’s Sensory Integration? An Introduction to the Concept. In: Sensory Integration and the Child: 25th Anniversary Edition. Los Angeles, CA: Western Psychological Services, 2005. Serrano, Paula. A Integração Sensorial no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Portugal: Papa- Letras, 2016. |
AutorDaniela Baleroni R.Silva, responsável pela Terapia Ocupacional na Clínica Integrakids Histórico
February 2019
Categorias |